Os medos e a matéria de que são feitos...

Os medos que me assolam...
Aqueles que eu identifico e os que nem sei que lá estão por estarem tão bem escondidos na parte mais negra do meu ser. Aquela parte recôndita de mim mesma que não quero mexer por conveniência e por temer o que posso de lá tirar.

Os medos que me inundam e me fazem acordar durante a noite por tão assustadores parecerem.
Esses medos barulhentos que me inundam a todo o momento e parecem ser bem maiores que eu mesma. Que me fazem duvidar, querer voltar atrás, me fazem fugir e me fazem querer desistir.
Que me tornam pequena em todo o meu tamanho e me fazem sentir a escuridão e o lado negro da vida.

Os medos. Agora os outros... Os que chegam de mansinho e que nem quase se fazem sentir. Esses são talvez os piores. Estão escondidos em parte incerta. Aquela que ainda não se encontra no nosso mapa territorial. O conhecimento ainda não foi feito e o território a nosso ver nem sequer existe. Até que um dia por um mero acaso, tropeçamos numa pequena ponta do medo escuro e silencioso. Aquele que se mascara de nada, para continuar inviolável. Que lá se encontra, sem se fazer presente.
Esses medos que começamos a pegar pela ponta e se mostram enormes... tão assustadores que nem sabemos por onde começar. Nem sabemos se algum dia vamos ser sequer capazes de começar... A vontade de fugir é tanta, mas ele paralisa-nos e faz-nos ficar a assistir de camarote à nossa própria morte.
Esses são sem dúvida os piores... são os medos cínicos, que se fazem parecer de tudo menos daquilo que são e por isso vão passando de mansinho ao nosso lado... um dia... um dia eu paro só para perceber quem és! Mas esse dia teme em chegar.
E assim vamos andando... e a vida vai-nos empurrando até não dar mais. Até dizer basta e nos colocar em frente do monstro.

Mas a verdade é que quando decidimos não fugir do monstro e ficar só lá durante algum tempo a observá-lo, vamos começar a perceber de que são feitos os nossos medos... Começamos a realizar o quão irrealizáveis eles são e quão falsos podem ser. A verdade é que eles só lá permanecem porque nós não paramos para falar com eles. E a verdade é que eles são bem mais tímidos e medrosos que nós. Constituídos pela sua própria matéria, basta dizermos que não ao medo bem de mansinho e ele começa logo a fugir. Não sem antes tentar parecer um pouco maior, tal e qual um cão assustado. Mas se confiarmos em nós e soubermos do que somos feitos, os medos começam a fugir do seu lugar seguro.

Deixemo-nos portanto abalar, mas não nos deixemos levar pelos nossos medos. Somos de todo maiores que eles e em nós vive a coragem desproporcionalmente maior que eles para os enfrentar.

Por isso deixa vir o medo... deixa vir todo e pergunta-lhe de mansinho... o que queres tu de mim senão aquilo que não te quero dar?


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